Atrativo Turistico
VALO GRANDE
Como Chegar
Descrição
Tido como o maior desastre ambiental do Império, a construção do canal artificial do Valo Grande, sinônimo da ambição, do descuido e da prepotência humana, visava aumentar a exportação do ouro branco – o arroz – encurtando o caminho percorrido pelas carroças que escoavam de forma limitada a produção, do porto fluvial até o porto marítimo. O projeto previa ligar o rio Ribeira de Iguape ao Mar Pequeno, e com isso ampliar as exportações e a riqueza produzida pela rizicultura, mas a intervenção, desacompanhada de estudos de impacto ambiental, inexistentes à época, resultou na inviabilização das operações do porto marítimo devido ao rápido assoreamento do Mar Pequeno, impossibilitando a navegação de navios de alto calado.
Nas primeiras décadas do século XIX, o município de Iguape após longo período de estagnação econômica devido ao fim da exploração do ouro, ressurgiu vigorosamente com a economia do arroz, e rivalizava com o Rio de Janeiro em importância portuária e em vida social e cultural, com suas famílias mais ricas brindadas com constantes espetáculos europeus de arte e até com a presença de um Vice-Consulado Português. Toda essa riqueza e ostentação deviam-se à especialização de seu porto à exportação do famoso “arroz de Iguape”, o que possibilitou a instalação no município de aproximadamente uma centena de engenhos de beneficiamento desse produto agrícola.
A classe política pressionada pelos senhores de engenhos, encampa a ideia de se escavar um canal ligando diretamente o porto fluvial ao porto marítimo. Essa reivindicação, com a força da elite política e econômica de Iguape, foi levada ao imperador D. Pedro I e, em 1827, eram iniciadas as obras do “Valo”, que, pelo projeto, teria pouco mais de 4 metros de largura e 2 Km de extensão.
A partir de 1852, o “Valo” passou a comportar a passagem de canoas de pequeno porte, e, assim, Iguape se tornava geograficamente uma ilha.
Em menos de meio século o pequeno “Valo”, pensado para dar passagem a uma canoa por vez, atingia 300 metros, desviando 2/3 do volume hídrico do rio Ribeira. Era agora já o “Valo Grande”. A força erosiva das águas carreava as margens do rio, e os sedimentos carreados para o Mar Pequeno assorearam por completo o porto marítimo inutilizando-o para operações portuárias já ao final do século XIX. A diminuição da salinidade, com a elevada entrada de água doce pelo “Valo”, passa a asfixiar o ecossistema manguezal e a comprometer a indústria da pesca, uma das principais atividades econômicas do município e de toda a região. Enfim, uma radical transformação geológica e econômica. Como se poderia esperar, Iguape entra em franca decadência econômica, social e cultural. Sua população escasseia e empobrece. Acabava-se melancólica e tragicamente a época áurea.
Em 1978, o governo do Estado de São Paulo providencia a construção de uma barragem (terra e pedras) para o fechamento do Valo Grande. No entanto, com a construção dessa barragem não se deu o esperado retorno às condições de equilíbrio do estuário anteriores à abertura do “Valo”. A partir dos anos 1980 uma sequência de grandes inundações causou prejuízos enormes aos bananais (e também ao cultivo do chá) e a outras atividades agrícolas e sítios urbanos da região.
Técnicos debruçaram-se sobre o problema e propuseram como melhor e bem pensada solução para o complexo problema a construção de uma nova barragem, mas agora com vertedouro e comportas de controle de vazão e com eclusa para possibilitarem a navegação. Em 1993, as obras civis da nova barragem foram concluídas, porém as instalações hidráulicas (vertedouro, comportas e eclusa) não foram executadas por alegada escassez de recursos financeiros para tanto. Boa parte dessas obras civis já se encontra hoje comprometida.
O Valo Grande continua como uma ferida aberta, de uma pungente carga didática. É muito utilizado para pesca, passeios náuticos e também campeonatos de natação. Possui urbanização em ambos os lados do canal, e sua orla é uma ótima opção de lazer para caminhadas, pescarias ou apenas para espairecer o espírito. O Governo do Estado tem projeto para fechamento total do canal através de comportas, o que possibilitará o renascimento da fauna marinha do Mar Pequeno, com o retorno da pujança das espécies marinhas que residem e/ou visitam os manguezais.
(Texto: Roberto Fortes e Luciano Nunes)